quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Uma nota sobre a avaliação

Hoje fiz uma pesquisa em blogues de educadores de infância e fiquei um bocadinho assustada quando tropecei num deles com centenas de seguidores.  O susto ficou enorme quando abri um documento intitulado "avaliação diagnóstica", uma ficha supostamente pensada para avaliar se as crianças quando chegam ao JI sabem as cores, os números, se reproduzem formas geométricas e linhas.... Indicadores fundamentais, como referem os autores, para pensar o que fazer (o currículo, suponho)!
Confesso que pensava não ser possível, depois de tudo o que se tem escrito e dito, encontrar esta forma de ver a avaliação entre os educadores de infância.
Deixo-vos a minha convicção, pouco original e sobejamente  reafirmada na literatura nacional e internacional, de que existem outras formas de fazer avaliação em educação de infância. Sobretudo, peço-vos que reflictam sobre o quê, que parte da criança e da sua vida é avaliada dessa forma.

A criança é feita
A criança tem cem linguagens
Cem mãos cem pensamentos
Cem maneiras de pensar
De brincar e de falar
Cem sempre cem
Maneiras de ouvir
De surpreender de amar
Cem alegrias para cantar e perceber
Cem mundos para descobrir
Cem mundos para inventar
Cem mundos para sonhar.
A criança tem
Cem linguagens
(e mais cem, cem, cem)
Mas roubam-lhe noventa e nove
Separam-lhe a cabeça do corpo
Dizem-lhe:
Para pensar sem mãos, para ouvir sem falar
Para compreender sem alegria
Para amar e para se admirar só no Natal e na Páscoa.
Dizem-lhe:
Para descobrir o mundo que já existe.
E de cem roubam-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe:
Que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia
A ciência e a imaginação
O céu e a terra, a razão e o sonho
São coisas que não estão bem juntas
Ou seja, dizem-lhe que os cem não existem.
E a criança por sua vez repete: os cem existem!


Loris Malaguzzi (1996)

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