segunda-feira, 14 de março de 2011

Construção da Identidade de Género no Jardim de Infância: rompendo com os estereótipos


Género e sexo não são exactamente a mesma coisa. A identidade de género diz respeito aos comportamentos e atitudes que são socialmente estabelecidos para cada sexo e constrói-se em contexto social por cada pessoa desde que nasce.
Sabemos que essa construção se processa nas crianças a par do desenvolvimento da capacidade para se diferenciarem e  fazer parte de grupos sociais. Crianças muito jovens, mesmo que com capacidade de expressão verbal muito desenvolvida, têm dificuldade em dizer-nos, com certeza, se são meninos ou meninas. Por outro lado, na busca da identificação, as crianças em idade pré-escolar têm tendência a definir o género apelando à exacerbação de estereótipos, mesmo quando isso não corresponde totalmente às práticas sociais de que participam. Existem diversos estudos que dão conta desse fenómeno. Costumo ilustrar esta constatação com o caso da minha filha que, aos 3 anos, só queria que lhe comprasse roupa cor-de-rosa, levando ao extremo este "gosto" e adoptando comportamentos de recusa de roupa de outra cor. 
Mas o que deve merecer a atenção de todos educadores é o facto das questões de género marcarem profundamente as relações sociais entre crianças, tendendo a perpetuar estereótipos sociais que levam  à desigualdade entre sexos (ver a propósito, por exemplo, o estudo de Manuela Ferreira, de 2004, realizado num jardim de infância).
Assim, o jardim de infância afigura-se um espaço  fundamental para a construção desta faceta da identidade e é na escolha entre a perpetuação e a ruptura que se define a nossa intencionalidade educativa. 
Esta introdução serve para apresentar uma actividade sobre esta temática, inscrita no Plano Anual de Actividades do meu Agrupamento de Escolas e a que chamei "Coisas de meninos e meninas". Foi uma actividade realizada em todas as salas existentes nos jardins de infância, seguindo um procedimento semelhante.

Primeiro - foi mostrada uma projecção às crianças que continha afirmações a propósito da diferenciação (estereótipos) e fotografias que as contrariavam. Em cada afirmação era ouvida a opinião das crianças, registada pelos adultos, e só depois era mostrada a fotografia.

Afirmações/Imagens
  • As meninas não gostam de brincar aos super-heróis/ imagem de menina vestida de super-heroína
  •  Não há mulheres toureiras/ imagem de mulher toureira
  • Os homens não sabem limpar a casa/ imagem de homem a aspirar a casa
  • As mulheres é que sabem cuidar de bebés/ imagens de homens a cuidar de bebés
  • As mulheres não sabem jogar futebol/ imagem de mulher a jogar futebol
  • Os homens não sabem cozinhar/ imagem de homem a cozinhar
  • As mulheres parecem homens vestidas de soldados/ imagem de mulher-soldado a maquilhar-se
  • Os homens não usam cabelo comprido/ imagem de homem de cabelo comprido
  • Os homens não usam brincos/imagem de homem com brincos
  • Os homens não gostam de cor-de-rosa/ imagem de homem vestido de cor-de-rosa numa mota cor-de-rosa
  • Os homens não usam saias/ imagem de um escocês
Verificou-se que, em todos os grupos, apenas as afirmações relativas a cozinhar, cuidar de bebés, limpar a casa, usar cabelo comprido e brincos provocaram alguma discórdia, nas outras as crianças eram unânimes na resposta que apoia o estereótipo.

Segundo - Foi feita a pergunta " Afinal qual é a diferença entre meninos e meninas?"

Em todos os grupos as crianças mais velhas chegaram à questão do sexo como critério de diferenciação.

Terceiro - Foi mostrada uma imagem representando homem e mulher, menino e menina (retirada da brochura para o 1º ciclo de apoio à educação sexual). Foi pedido às crianças que identificassem as diferenças nas imagens e verbalizassem a que género cada uma pertencia (menino ou menina).

Num dos grupos verificou-se que algumas crianças mais novas continuaram sem muita certeza, não afirmando com convicção qual o seu género (menino ou menina). Não esperávamos que esta actividade permitisse a construção, já que esta última se faz no tempo e nas práticas sociais. Esperávamos acender o interesse e criar consciencialização de dúvidas, quando muito.

Quarto - Foi pedido às crianças que representassem graficamente meninos e meninas (registos do grupo 3 do JI de Meãs)

2 comentários:

  1. Deveras Interessante!Ofélia não sei se já conheces, provavelmente sim:
    http://www.cig.gov.pt/
    onde encontras o Guião de Educação: género e cidadania
    bj Teresa Rebelo

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